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Um tratamento dietético para a depressão

Um ensaio controlado aleatório mostra que a dieta certa pode melhorar a depressão.

Um tratamento dietético para a depressão


Texto original aqui. Tradução: Regiany Floriano
Por Emily Deans M.D.
Evolutionary Psychiatry

Nos últimos sete anos, escrevi artigos sobre alimentação e humor, explorando como diferentes dietas e tipos de alimentos podem criar ou ajudar problemas de saúde mental. Apesar de haver um grande interesse neste tema, gerando dezenas de livros populares desde o Grain Brain até o Eat Complete, os dados que tivemos sempre foram limitados. A grande maioria dos estudos sobre alimentação e saúde mental são observacionais, que significa uma forma de perguntar às pessoas o que elas comem e depois rastrear variáveis de saúde mental. Esses dados são limitados por diferentes tipos de vieses, os estudos de alimentos são particularmente propensos a erros, pois geralmente são feitos com "questionários de freqüência alimentar" ou QFAs perguntando sobre quantos hambúrgueres ou legumes você comeu. Mesmo um dos QFA mais validados no mundo, aquele usado para o estudo Nurses’ Health, tem sérias limitações.

As pessoas que mentiram mais sobre a ingestão de hambúrgueres, eram mais saudáveis do que aquelas que não o fizeram, por exemplo. Com dados observacionais, você costuma achar que as pessoas saudáveis, que se preocupam com sua saúde, e escutam mensagens de saúde, sejam mais saudáveis. Grandes estudos de observação são principalmente interessantes se tiverem resultados que sejam opostos ao que se espera (por exemplo, os bebedores de café, apesar de fumar mais e beber mais álcool, têm melhores resultados em várias medidas de boa saúde).

O verdadeiro ponto alto da ciência está no ensaio controlado randomizado. Significa dividir dois grupos de pessoas, e colocar um grupo em um experimento e outro como controle, e ver se há uma diferença nos resultados entre os grupos. Quando se trata de doenças mentais, tivemos alguns dados para o uso de ensaios controlados randomizados de certas dietas e alguns desfechos de humor. Todos esses estudos tinham a depressão como um dos pontos finais medidos, mas nenhum deles estava em um grupo de pessoas deprimidas tentando diferentes dietas para se sentirem melhores. As medidas de depressão foram coletadas ao longo de um estudo em busca de outra coisa (como doença cardíaca). Nestes ensaios, a mudança de dieta para várias opções (como a Mediterrânea ou para reduzir o colesterol), não piorou os sintomas de humor deprimido, apenas os ensaios de dietas que não restringiram a carne vermelha ou não, descritos como dietas para "reduzir o colesterol", foram efetivos na redução das medidas de depressão até o final do estudo. Outro estudo de terapia randomizada para depressão precoce em idosos, usou um braço de orientação nutricional como controle (pensando que a recomendação alimentar seria neutra e não ajudaria na saúde mental), encontrando-se igual a um tipo de psicoterapia baseada na comunidade na prevenção do agravamento da depressão.

Este ano, finalmente, temos o estudo SMILES, o primeiro experimento dietético a focar especificamente em um tratamento alimentar em uma população deprimida, em um ambiente de saúde mental. Os participantes preencheram critérios para a depressão e muitos já estavam sendo tratados com terapia padrão, medicamentos ou ambos. Os designers deste teste tomaram a preponderância de dados observacionais e controlados que já temos para a saúde mental e geral, e decidiram instruir as pessoas usando recomendações dietéticas, orientação nutricional e entrevistas motivacionais dirigidas a seguir uma "dieta mediterrânea modificada", que combinava as diretrizes nutricionais australiana e diretrizes dietéticas para adultos na Grécia. Recomendaram comer grãos integrais, legumes, frutas, legumes, lácteos não adoçados, nozes crus, peixe, frango, ovos, carne vermelha (até três porções por semana) e azeite. Todos no estudo preencheram os critérios para um transtorno depressivo.

O braço experimental dos indivíduos foi instruído para reduzir a ingestão de doces, cereais refinados, alimentos fritos, fast food, carne processada, bebidas açucaradas e álcool além de 1-2 copos de vinho com as refeições. Houveram sessões de de sete horas de aconselhamento nutricional e uma amostra de "cesta de alimentos" com alguns alimentos e receitas. O grupo controle teve o mesmo número de sessões como "suporte social", que é um tipo de terapia de suporte que pretende imitar o tempo e o engajamento interpessoal do grupo experimental, sem utilizar técnicas psicoterapêuticas.

Algumas dicas mais interessantes sobre o design e o estudo: eles randomizaram um grupo de pessoas que estavam deprimidas e comiam mais como a média australiana (que significa fast food, carboidratos refinados, etc.) e excluiu as pessoas que já comiam de forma saudável. Os pesquisadores também analisaram o custo, pois muitas pessoas acham que comer saudável seja mais caro e fora do alcance de muitos e descobriu que cada participante experimental, gastou em média US$ 138 em alimentos por semana antes do teste, e US$ 112 por semana durante o estudo. Uma grande limitação deste estudo é o tamanho: apenas 33 no braço experimental e 34 no grupo controle. O teste foi projetado para um número maior.

Apesar do tamanho pequeno, os resultados ainda foram estatisticamente significantes e melhores do que o previsto. O grupo dietético apresentou maiores reduções nos escores de depressão no final de 12 semanas. A remissão de sintomas de depressão ocorreu em 32,3 por cento do grupo de dieta em oposição a 8 por cento do grupo de controle. Isso significa que o "NNT" (ou o número necessário para tratar) para este estudo foi de 4.1, o que é semelhante e até melhor do que muitos ensaios com antidepressivos químicos.

O que fica como mensagem? Alternar de uma dieta estilo ocidental para uma dieta baseada em alimentos integrais em um padrão mediterrâneo pode, de fato, tratar a depressão. Dada a evidência desta dieta em outras condições de saúde, você também pode melhorar muitos aspectos da saúde ao longo do caminho, economizando dinheiro e se sentindo melhor. Claro que seria bom ter mais estudos disponíveis, mas é difícil imaginar como uma instrução dietética saudável e razoável poderia ser prejudicial. O principal problema com essa terapia provavelmente esteja relacionado ao problema de recrutamento para este estudo: a depressão causa uma falta de motivação e é difícil adotar uma mudança de dieta (ou outra mudança no estilo de vida) quando alguém está significativamente deprimido. Com um efeito de tratamento tão forte observado neste estudo, pode valer a pena o terapeuta ou psiquiatra dispor de um tempinho a mais para falar sobre uma boa alimentação com seus pacientes.
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 As informações contidas neste blog são relatos pessoais, ou artigos traduzidos com as devidas referências, não se destinam a diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer condição médica e não devem ser usadas como um substituto para o cuidado e orientação de um médico / nutricionista.

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