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Viciados em comida - Por Jason Fung

Viciados em comida - Por Jason Fung


Texto original aqui. Tradução: Regiany Floriano

Os desejos por comida são definidos como impulsos frequentes e intensos para comer tipos específicos de alimentos. Há pessoas que negam a existência deles, mas, na verdade, todos nós sentimos, alguns mais do que os outros. Por exemplo, algumas pessoas têm desejos intensos de comer coisas doces (provavelmente o mais comum). No entanto, alimentos salgados, chocolate, pizza (junk food) também são desejos alimentares comuns. Gary Taubes escreveu sobre o vício dos carboidratos no New York Times.


Do ponto de vista intelectual, sabemos muito bem que comer esses alimentos nos fará ganhar peso, mas nos sentimos impotentes para resistir. Isso não é realmente tão difícil de entender. Considere uma substância como o álcool. Mesmo sabendo que beber destrói a sua vida, o viciado alcoólico se sente obrigado a beber. Entendemos que ele é vítima do alcoolismo e precisa de apoio para reverter esta situação. Por exemplo, ele pode ser encorajado a se juntar aos Alcoólicos Anônimos sem o estigma de que ele "se deixou chegar a este ponto", ou que ele simplesmente não tenha força de vontade.


Infelizmente, os desejos por comida não estão livres de tal estigma. Se você não consegue resistir aos apelos de um biscoito, muitas pessoas acham que a culpa é sua, e fica muito mais difícil encontrar ajuda. Karen Thompson e Bitten Jonsson escreveram sobre o vício do açúcar em www.dietdoctor.com e ajudam muitas pessoas a vencê-lo.


Existe uma associação entre obesidade e os desejos por alimentos, e o mesmo vale para o diabetes tipo 2. Os pecados mais frequentes são os alimentos doces, os alimentos ricos em amido, os alimentos com alto teor de gordura e os alimentos lixo, os junk foods (altamente processados). Mas a ingestão de alimentos leva à obesidade ou a obesidade leva aos desejos por alimentos, ou ambas? Esta é uma questão muito importante, porque a compreensão da causa (etiologia) é a chave para o tratamento bem-sucedido. Então, o que faz com que ocorram os desejos por comida?


Uma teoria é que os desejos alimentares se desenvolvem em resposta a deficiências de certos nutrientes ou energia alimentar global (calorias). Não há dados científicos que sugiram que isso seja verdade. No caso da obesidade, claramente esses pacientes não têm falta total de energia alimentar. Há aqueles que sugerem que seja uma deficiência de nutrientes que cause a obesidade. Isso levaria a uma necessidade de comer alimentos densos em nutrientes. Mas, há um problema claro e óbvio aqui. De que nutriente estamos falando?

No caso da maioria dos junk foods, doces e alimentos ricos em amido, eles não têm nutrientes essenciais, então o corpo não pode "implorar" por esses nutrientes para ter uma boa saúde. Coca cola não tem nutrientes essenciais. Donuts não tem nutrientes essenciais. Tal como acontece com as vitaminas, a obesidade não é uma síndrome de deficiência de nutrientes. Não é escorbuto. Não é kwashiorkor (N.T.: uma forma de desnutrição causada por deficiência proteica na dieta, geralmente afetando crianças pequenas nos trópicos).


A possibilidade que nos resta é que os desejos alimentares se desenvolvem devido à associação consistente de certos alimentos com estímulos particulares ou contextos sociais (ocasiões especiais). Isso sugere que os desejos por comida sejam em grande parte, uma resposta condicionada (como os cães de Pavlov). Se isso for verdade, então parte da solução é quebrar essas respostas. Ou seja, se podemos parar de comer certos alimentos por um longo tempo, então esses desejos devem melhorar lentamente. Isso é verdade? Na verdade, é.

Neste estudo, os participantes foram colocados em uma dieta muito baixa em calorias - 1200 calorias por dia no grupo de baixa caloria (LCD) e 800 calorias por dia em muito baixas calorias (VLCD). Você pode ver que a restrição calórica severa foi muito, muito mais eficaz na redução dos desejos do que uma dieta com mais calorias. Isso apesar do fato de que uma dieta de 1200 calorias já seja extremamente rigorosa. O meu palpite é que uma restrição ainda mais severa ajudou a quebrar muitas das respostas condicionadas, onde a dieta mais generosa não seria suficientemente poderosa para fazer isto acontecer. O mesmo efeito é observado em dietas de jejum de suco, onde uma dieta de "jejum" de aproximadamente 800 calorias ajudou a reduzir os desejos que as dietas baixas em calorias não conseguiam reduzir.


Isso leva ao fato contra-intuitivo que vimos em nossa clínica IDM o tempo todo. Comer menos, quando você reduz muito, muito baixo, te faz ficar com MENOS fome, não com mais fome. Se você tem desejos por comida, então esse efeito é potencialmente muito importante. No estudo mostrado, uma dieta de 1200 calorias foi praticamente ineficaz na redução dos desejos onde a dieta de 800 calorias reduziu em pelo menos 50%.
Este efeito é observado em todos os diferentes tipos de alimentos, quer sejam doces, amidos, alimentos gordurosos ou fast food. Com o tempo, esse efeito não diminui, mas persiste. Depois de começar a realimentação, o efeito começa a se dissipar.

Este conceito se estende à fome. Enquanto os desejos e a fome são fenômenos diferentes, eles estão claramente correlacionados um com o outro, de modo que espera-se que a diminuição dos desejos resulte em uma diminuição da fome. Mas tenha em mente que esse efeito só é visto com uma restrição calórica muito severa. Na verdade, uma comparação de uma dieta de 500 calorias versus 1200 calorias revelou uma fome significativamente menor na dieta de 500 calorias. Ou seja, a fome é menor com menos comida. Contra-intuitivo, mas consistente.

Uma meta-análise mais recente analisou esse efeito com mais detalhes. Analisando todos os 8 estudos na literatura, eles descobriram que as intervenções que duraram pelo menos 12 semanas com restrição calórica de forma consistente mostraram diminuição dos desejos por alimentos. O efeito não foi grande, mas consistente, mais uma vez por todos os tipos de alimentos - salgados, doces, gordurosos ou junk food. As pessoas que cortaram certos alimentos percebem isso também. As pessoas que reduzem a ingestão de açúcar muito perto de zero, por exemplo, acham que as vontades de doces desaparecem. Se você comer mais açúcar, os desejos não melhoram - eles pioram. É como aquela coceira - coçar não vai resolver - vai ficar pior.

A aplicação ao jejum é óbvia. Severas restrições de alimentos não aumentam os desejos por comida, mas de forma consistente, diminuem, o que é uma das chaves para o sucesso. Isso é inteiramente consistente com nossa experiência clínica. Ao contrário da expectativa de quase todos, o jejum diminui a fome. Os pacientes sempre retornam à nossa clínica e dizem: "Eu acho que meu estômago encolheu. Eu como um terço do que eu costumava comer e me sinto muito satisfeito".

Isso é ótima notícia, porque agora você está trabalhando a favor do seu corpo para perder peso, em vez de contra ele. Um dos mitos persistentes sobre o jejum é que "você vai ficar com tanta fome que vai acabar comendo tudo que vir pela frente". É por isso que as pessoas recomendam comer 6 ou 7 vezes ao longo do dia, a fim de evitar essas vontades. Essas pessoas, obviamente, não têm nenhuma experiência prática e não conhecem a pesquisa que mostra exatamente o contrário. Se você come constantemente, é mais provável que alimente esses desejos. Se você fica em jejum, esses desejos se afastarão. Talvez. Pelo menos vale a pena tentar.

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 As informações contidas neste blog são relatos pessoais, ou artigos traduzidos com as devidas referências, não se destinam a diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer condição médica e não devem ser usadas como um substituto para o cuidado e orientação de um médico / nutricionista.

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