Artigo publicado no Science Daily, traduzido por Regiany Floriano.
A Manteiga pode não ser um alimento saudável, mas os
pesquisadores desenterraram mais evidências de que substituir por óleos
vegetais não diminui risco de doença cardíaca.
Data: 12 de
abril de 2016
Fonte:
University of North Carolina Health Care
Resumo: Uma nova pesquisa de dados antigos sugere que o uso
de óleos vegetais ricos em ácido linoleico não conseguiu reduzir a doença
cardíaca e a mortalidade em geral, embora a intervenção tenha reduzido os
níveis de colesterol. E os pesquisadores descobriram que o consumo de
(margarina) óleos vegetais na verdade pode ser pior para a saúde do coração do
que comer manteiga.
Uma equipe de pesquisadores liderada por cientistas da UNC School
of Medicine e os Institutos Nacionais de Saúde desenterrou mais evidências que colocam
em dúvida a prática tradicional do "coração saudável" de substituir a
manteiga e outras gorduras saturadas por óleo de milho e outros óleos vegetais
ricos em ácido linoleico.
Os resultados, relatados hoje no British Medical Journal,
sugerem que o uso de óleos vegetais ricos em ácido linoleico pode ser pior do
que usar manteiga quando se trata de prevenção de doenças cardíacas, embora
mais pesquisas precisem ser feitas nessa frente. Esta última evidência vem de
uma análise de dados inéditos de um grande ensaio controlado realizado em
Minnesota há quase 50 anos, bem como uma análise mais ampla dos dados
publicados a partir de todos os ensaios similares desta intervenção dietética.
A análise mostra que as intervenções que utilizaram óleos
ricos em ácido linoleico falharam em reduzir a doença cardíaca e a mortalidade
geral, embora a intervenção tenha reduzido os níveis de colesterol. No estudo
de Minnesota, os participantes que tiveram maior redução no colesterol sérico
apresentaram maior risco de morte ao invés de menor.
"Ao todo, esta pesquisa nos leva a concluir que a
publicação incompleta de dados importantes tem contribuído para a
superestimação dos benefícios – e a subestimação de riscos potenciais - de
substituir a gordura saturada por óleos vegetais ricos em ácido
linoleico," disse a primeira co-autora Daisy Zamora, PhD, pesquisadora do
Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina UNC.
Juntamente com o óleo de milho, óleos ricos em ácido
linoleico incluem o óleo de cártamo, óleo de soja, óleo de girassol, e óleo de
algodão.
A crença de que a substituição das gorduras saturadas pelos
óleos vegetais melhora saúde do coração data da década de 1960, quando os
estudos começaram a mostrar que esta mudança na dieta reduziu os níveis de
colesterol no sangue. Desde então, alguns estudos, incluindo estudos
epidemiológicos e em animais, também sugeriram que esta intervenção também
reduz risco de ataque cardíaco e mortalidade relacionada. Em 2009, a Associação
Americana do Coração reafirmou a sua opinião de que uma dieta baixa em gordura
saturada com quantidades moderadamente elevadas (5-10 por cento das calorias
diárias) de ácido linoleico e outros ácidos graxos insaturados ômega-6,
provavelmente beneficiaria o coração.
No entanto, estudos randomizados controlados - considerados
o padrão ouro para a investigação médica - nunca mostraram que intervenções
dietéticas à base de ácido linoleico reduziram o risco de ataques cardíacos ou
mortes.
O maior desses ensaios, o Experimento Coronário de Minnesota
(MCE), foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Minnesota, entre 1968
e 1973. Dele participaram 9,423 pacientes em seis hospitais psiquiátricos
estaduais e uma casa de repouso estatal. Seus resultados não aparecem em uma
revista médica até 1989. Os investigadores relataram na época, que a mudança a
partir da manteiga e outras gorduras saturadas para o óleo de milho fez abaixar
níveis do colesterol, mas não fez nenhuma diferença em termos de ataques
cardíacos, mortes por ataques cardíacos ou mortes em geral.
No decurso da investigação dos efeitos dos
óleos ricos em ácido linoleico sobre a saúde, a equipe de pesquisadores liderada por Chris
Ramsden, um investigador médico nos Institutos Nacionais de Saúde, se deparou
com o estudo MCE e com o estudo de 1989.
"Olhando de perto, percebemos que algumas das
importantes análises que os investigadores do MCE tinham planejado fazer, tinham
se perdido", disse Zamora.
Com a ajuda de Robert Frantz, o filho do falecido
investigador principal do MCE, a equipe foi capaz de recuperar grande parte dos
dados brutos do estudo, que tinham sido guardados durante décadas nos arquivos
e nas fitas magnéticas. A equipe também descobriu alguns dados de ensaios e
análises em uma tese um mestrado da Universidade de Minnesota, escritos por
Steven K. Broste, um aluno de um dos investigadores originais.
Usando os dados recuperados para realizar a análise que foi
pré-especificada pelos investigadores MCE, mas nunca publicada, a equipe
confirmou o efeito de redução do colesterol na intervenção dietética. Mas eles
também descobriram que nos registros de autópsia recuperados, o grupo do óleo
de milho teve quase o dobro do número de ataques cardíacos em relação ao grupo
controle.
Talvez o mais impressionante, os resumos representados
graficamente contidos na tese de Broste indicaram que no grupo de intervenção,
mulheres e doentes com mais de 65 anos tiveram aproximadamente 15 por cento
mais mortes durante o estudo, em comparação com os seus homólogos do grupo de
controle.
"Nós não recuperamos os dados individuais de pacientes associados
a esses gráficos e por isso não pudemos determinar se essas diferenças foram
estatisticamente significativas", disse Zamora.
Ela também advertiu que as outras análises foram baseadas em
recuperação apenas parcial dos dados dos pacientes a partir dos arquivos do MCE,
e que por isso seria prematuro concluir a partir deles, que a substituição das
gorduras saturadas pelo óleo de milho seria realmente prejudicial para a saúde do
coração.
No entanto, em um estudo muito citado, publicado em 2013,
Ramsden, Zamora e seus colegas foram capazes de recuperar dados não publicados
de um estudo menor, o Estudo do da Dieta do Coração de Sydney, e lá eles também
encontraram mais casos de doenças cardíacas e mortes entre os pacientes que
receberam uma intervenção de ácido linoleico (óleo de cártamo), em comparação
com os grupos controles.
Após a recuperação dos dados do estudo do MCE, os
pesquisadores adicionaram novos dados aos seus conjuntos de dados existentes a
partir do Estudo de Sydney e os outros três
ensaios clínicos randomizados publicados de intervenções dietéticas à base de
ácido linoleico. Em uma metanálise dos dados combinados, eles novamente não
encontraram nenhuma evidência de que estas intervenções tenham reduzido as
mortes por doenças cardíacas ou mortes por todas as causas.
"Existem algumas diferenças entre esses estudos, mas no
geral, eles realmente não estão em desacordo", disse Zamora.
Por que os óleos que contêm ácido linoleico poderiam reduzir
o colesterol, mas agravar ou pelo menos deixar de reduzir o risco de ataque
cardíaco, é um assunto de uma investigação em curso e um debate acirrado. Alguns
estudos sugerem que estes óleos possam - sob determinadas circunstâncias -
causar inflamação, um fator de risco conhecido para a doença cardíaca. Há
também alguma evidência de que eles possam promover a aterosclerose, quando os
óleos são quimicamente modificados num processo chamado oxidação.
- Mais um artigo sobre este assunto publicado na Revista TIME (traduzido).
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