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Ataxia do Glúten

A ingestão de grãos contendo glúten pode induzir danos diretamente ao cérebro, que se manifestam na perda de equilíbrio, falha de linguagem ou má coordenação. Quanto maior o tempo de exposição ao glúten na dieta, maior a probabilidade de efeitos no cérebro (irreversíveis em até 60% das pessoas com ataxia do glúten).
Ter um diagnóstico de ataxia do glúten pode ser difícil, pois os pacientes podem ou não apresentar sintomas gastrointestinais. Uma rigorosa dieta sem glúten pode ser o melhor recurso.

Ataxia do Glúten - um resultado dos grãos que danificam o cérebro

Texto original publicado por Mindd Foundation, tradução: Regiany Floriano

As evidências sobre o efeito prejudicial de glúten no cérebro estão aumentando, e as condições como ataxia do glúten estão sendo cada vez mais reconhecidas. A ataxia do glúten não é uma condição nova e pesquisas nesta área têm sido feitas há mais de uma década. Mas o que é exatamente a ataxia do glúten?

Ataxia é o nome dado ao grupo de distúrbios neurológicos que afetam a coordenação, fala e o equilíbrio. A deglutição e a visão também podem ser afetadas. Ela pode ocorrer por muitas razões, incluindo causas hereditárias, como a ataxia de Friedreich, ou pode desenvolver-se sem razão conhecida (idiopática). A ataxia de glúten envolve uma resposta auto-imune após comer glúten contendo grãos (1). Os sinais e sintomas de ataxia podem se desenvolver gradualmente e a idade no início dos sintomas pode variar para cada indivíduo.

Danos do glúten ao cérebro


Depois de comer grãos contendo glúten, como trigo, cevada, centeio e espelta, indivíduos suscetíveis têm demonstrado desenvolver anticorpos que podem atacar um determinado tipo de célula no cerebelo - as células purkinje. O cerebelo é responsável pela coordenação, equilíbrio e controle dos movimentos musculares. Pensa-se que as células purkinje partilham epítopos semelhantes (parte do antígeno que se liga a um anticorpo) com os da gliadina (2). Assim, em vez da ligação do anticorpo ao epítopo de gliadina, acidentalmente se liga ao epítopo da célula purkinje. Isso significa que a ingestão de grãos contendo glúten pode induzir danos diretamente ao cérebro. Quanto maior o tempo de exposição ao glúten na dieta, maior a probabilidade de efeitos no cérebro. O dano ao cérebro é irreversível em até 60% das pessoas com ataxia do glúten, apresentam retração cerebelar na ressonância magnética (3).

Diagnóstico


Ter um diagnóstico de ataxia do glúten pode ser difícil. Os anticorpos normalmente vistos naqueles com doença celíaca estão presentes em menos de 38% das pessoas com ataxia ao glúten e são geralmente em níveis mais baixos do que os vistos em pacientes com doença celíaca. Existem algumas evidências que demonstram uma combinação de anticorpos que podem aparecer na ataxia do glúten, incluindo os anticorpos tTG2, tTG 6 e anti-gliadina (4). Ainda não está claro se a detecção da combinação destes anticorpos é suficiente para dar um diagnóstico, no entanto eles devem ser considerados em casos de ataxia inexplicada (3). Mesmo que menos de 10% dos pacientes com ataxia do glúten tenha quaisquer sintomas gastrointestinais, uma biópsia intestinal pode ser útil (3).

Ligação genética


Pode haver uma ligação genética à ataxia do glúten e algumas pesquisas demonstraram que até 70% daqueles com ataxia do glúten têm haplótipos HLA-DQ2, HLA-DQ8 e HLA-DQ1 5 (Um haplótipo é um grupo de genes herdados de um dos pais). Estes haplótipos também estão presentes em muitos casos de doença celíaca.

Dieta livre de glúten nos casos de ataxia do glúten


Eliminar todas as fontes de glúten em casos de glúten ataxia pode ser vital para reduzir os danos ao cérebro. Há evidências para mostrar que uma dieta livre de todas as fontes de glúten pode auxiliar com sintomas atáxicos (6). Alguns podem argumentar que o dano já está feito ou que a eliminação de glúten não gere nenhum benefício. A eliminação rigorosa de todas as fontes de glúten na dieta, incluindo aqueles alimentos "livres de" contaminação com vestígios de glúten, pode dar os melhores resultados a longo prazo.

Pontos chave:


· Os grãos contendo glúten podem induzir danos diretamente ao cérebro

· As células específicas no cerebelo são atacadas por anticorpos produzidos em resposta ao consumo de glúten

· Os danos ao cerebelo podem causar sinais como perda de equilíbrio, falta de linguagem ou má coordenação

· Pode haver uma ligação genética à ataxia do glúten

· A ataxia de glúten pode, ou não, apresentar sintomas ou problemas gastrointestinais

· A longo prazo, uma rigorosa dieta sem glúten pode ser o melhor recurso.



REFERÊNCIAS

  1. Hadjivassiliou, M., Sanders, D. S., Grünewald, R. A., Woodroofe, N., Boscolo, S., & Aeschlimann, D. (2010). Gluten sensitivity: from gut to brain. The Lancet Neurology, 9(3), 318-330.
  2. Hadjivassiliou M, Boscolo S, Davies-Jones GA, Grunewald RA, Not T, Sanders DS, et al. (2002) The humoral response in the pathogenesis of gluten ataxia. Neurology. 58:1221–1226.
  1. Sapone et al. (2012) Spectrum of gluten related disorders: consensus on new nomenclature and classification. BMC Medicine 10:13
  1. Hadjivassiliou M, Mäki M, Sanders DS, Williamson CA, Grünewald RA, Woodroofe NM, Korponay-Szabó IR (2006) Autoantibody targeting of brain and intestinal transglutaminase in gluten ataxia. Neurology66:373-377.
  1. Hadjivassiliou M, Grunewald R, Sharrack B, Sanders D, Lobo A, Williamson C, et al. (2003) Gluten ataxia in perspective: Epidemiology, genetic susceptibility and clinical characteristics. Brain. 126:685–691.
  1. Hadjivassiliou, M., Davies-Jones, G. A. B., Sanders, D. S., & Grünewald, R. A. (2003). Dietary treatment of gluten ataxia. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, 74(9), 1221-1224.

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 As informações contidas neste blog são relatos pessoais, ou artigos traduzidos com as devidas referências, não se destinam a diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer condição médica e não devem ser usadas como um substituto para o cuidado e orientação de um médico / nutricionista.

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